[RP]Another Chance

Observei silencioso enquanto ela me contava aquilo tudo, não achava que ela estava mentindo, não dessa vez e sabia o quanto a coincidência entre os dois passados era alarmante. Quem poderia dizer que aquela garota guardava tudo aquilo? Nem eu me prestava a advinhar. Por sorte, já havia pesquisado. Era uma vida sofrida e pesada demais. Sabia muito bem o que a tragédia fazia com nós, o quanto mudava por dentro, o quanto doía e nunca, mas nunca cicatrizada. Uma coisa entendia ainda mais. Vingança. Metade da minha vida foi guiada por aquele sentimento corruptor, que nos tomava de assalto e guiava nosso rumo. Reconhecia no olhar dela, tudo aquilo. Sede de vingança, dor, muita dor, se assemelhava ao pequeno Saymon. Nesse desabafo, confissão, como queira chamar, as memórias dela se assimilavam a minha, se fundindo em uma confusão de pensamentos e lembranças. Quando ela me perguntou eu meio que fui tirado do transe.

Quer saber, eu contaria um pouco sobre meu passado, mas ela deveria entender que ele não existia mais. Havia sido apagado do seu ser, era isso que ele tinha prometido, até hoje. Seria duro, mais talvez, fosse a hora e o lugar certo. Estiquei o corpo para frente, com as mãos entrelaçadas na minha frente.

- Alex Blake. O menino que não saiu da Rússia sem vingança. Por causa do envolvimento do pai com a máfia russa, sua mãe e sua avó foram mortas. Pior, o garoto teve que ouvir sua mãe ser torturada até a morte para protegê-lo. Enquanto a casa pegava fogo, tentou morrer junto, seus poderes o salvaram e ele foi levado para o orfanato. Com a corrupção da policia de Moscou, os assassinos foram soltos mas ele não desistiu. Armou um plano com alguns garotos do orfanato para furtar locais pequenos, até ter dinheiro para comprar uma arma. Assim que consegui foi atrás do cara. Foi humilhado, pisoteado e quase morreu novamente. De qualquer forma ele teria que ter sua vingança e tentou uma nova estratégia. Voltou a estudar, foi para o exército, se dedicou a construir uma vida sólida, até trocou de nome. Se tornou alguém respeitado e com grana. Estudou a arte do ninjutso e voltou a confrontar o criminoso. Teve se sucesso e se mudou para os Estados Unidos. Hoje é mercenário.

A indicação dela para o grupo não me era apetitosa, preferia trabalhar sozinho e independente. Meu motivo por estar agora conversado com ela havia mudado com o contexto. Talvez eu quisesse ser o incentivador daquela vingança ou talvez eu o tivesse para fazer o contrário. Ela me deixava meio confuso, mas fiz uma coisa.

- Sabe o que ele aprendeu depois disso tudo? A vingança, não tapa o buraco que fica, então para que sujar as mãos? Claro, que a escolha é sua, mas um caminho assim, não tem volta.

Encerrei a minha fala e aprumei o corpo. O garçom serviu a comida, depois abriu o shampae. Peguei o gafo e a faca, só não toquei na comida. Dispensei o garçom e encarei-a novamente. Não acredito que estava alertando uma pessoa que não tinha intimidade sobre vingança. Milagres eram possíveis mesmo.